COMO O CLIMATÉRIO AFETA O DESEJO SEXUAL DAS MULHERES

O climatério é um período extenso da vida feminina, caracterizado por uma série alterações metabólicas e hormonais que impactam muitos aspectos, inclusive a esfera sexual. A sexualidade é reconhecida nos dias de hoje como um dos pilares da qualidade de vida e, no climatério, este domínio está em crescente valorização em virtude do aumento da longevidade feminina nas últimas décadas e da maior prevalência de disfunções sexuais depois da menopausa. O entendimento das necessidades sexuais e dificuldades femininas no climatério são essenciais para a promoção da qualidade de vida da mulher no seu processo de envelhecimento, portanto conhecer como o climatério afeta o desejo sexual das mulheres é muito importante.

O que acontece com o organismo no climatério?

O climatério se caracteriza por um processo amplo de transformações não patológicas de âmbito físico, social e emocional, que pode ser mais ou menos extenso para cada mulher.

Entre as mudanças que podem ocorrer no climatério, algumas são causadas pelo desequilíbrio ou queda brusca dos hormônios sexuais. Os efeitos físicos da queda dos níveis de estrogênio, por exemplo, podem causar sintomas como ondas de calor, suores noturnos, secura vaginal e, além disso, podem minar a motivação e os desejos sexuais.

Como o climatério afeta o desejo sexual das mulheres 

O desejo sexual durante o climatério não segue uma linearidade fácil de ser mensurada. As alterações na libido e nos impulsos sexuais podem ser decorrentes de um complexo emaranhado de fatores: biológicos, psicológicos, sociais e até espirituais.

De maneira geral, o desejo sexual diminui gradualmente com a idade em homens e mulheres, mas as mulheres têm duas a três vezes mais chances de serem afetadas por um declínio no desejo sexual à medida que envelhecem. Esta redução do desejo sexual é comumente percebida em mulheres a partir dos 40 e 50 anos.

Mas o que é exatamente o desejo sexual? É basicamente o interesse em sexo e em ser sexual. Ele é constituído por três componentes que se complementam:

  • O componente biológico: se manifesta como pensamentos e fantasias sexuais, atração erótica por outras pessoas, busca de atividade sexual ou formigamento ou sensibilidade genital.
  • Crenças, valores e expectativas sobre a atividade sexual: o impulso natural pode ser moderado por suas atitudes pessoais em relação ao sexo, que são moldadas por sua cultura, suas crenças religiosas, sua família, seus colegas e influências da mídia.
  • Motivação:  envolve sua disposição de se comportar sexualmente em um determinado momento e com um determinado parceiro. Por ser impulsionada por fatores emocionais e interpessoais, a motivação é o componente mais complexo do desejo.

Mulheres na fase do climatério podem experimentar uma baixa na libido, orgasmo e frequência sexual. Estas mudanças que afetam a resposta sexual são amplamente mediadas pelo estrogênio. Os hormônios afetam a excitação sexual por meio da percepção sensorial, transmissão e descarga nervosa central e periférica, fluxo sanguíneo periférico e capacidade de desenvolver tensão muscular. A diminuição desse mecanismo pode levar à redução da responsividade sexual, diminuição da atividade sexual e declínio do desejo sexual.

Outra manifestação decorrente da redução do estrogênio é a diminuição da lubrificação vaginal que pode resultar em dispareunia (dor genital associada à relação sexual). O sexo pode se tornar bastante desconfortável e doloroso, sendo este mais um fator que potencialmente afetará a motivação e o desejo sexual das mulheres durante climatério.

Especialmente na pós-menopausa, cerca de metade das mulheres tem uma produção insignificante de testosterona e, o impacto desse declínio na libido, depende da sensibilidade biológica inerente de cada mulher à testosterona, da sua história sexual e possivelmente de muitos outros fatores.

De modo geral, o climatério é um período de muitas flutuações hormonais que podem afetar a saúde mental da mulher, o que, por sua vez, pode causar uma diminuição do desejo sexual.

Estas alterações de ordem biológica que resultam em alguns sintomas desconfortáveis, como é o caso da diminuição da libido, acabam exigindo da mulher uma readaptação no sentido de compreender como o seu corpo passa a funcionar nesta fase da vida. É muito importante, porém, reforçar que o climatério não é sinônimo de velhice, improdutividade e fim da sexualidade.

Diante de todas as mudanças que ocorrem neste período da vida da mulher, é essencial que as mulheres conversem abertamente com o seu médico sobre como o climatério afeta o desejo sexual das mulheres , para que ela e seu parceiro sejam informados sobre as alterações orgânicas e de comportamento a que estão sujeitos no decorrer do envelhecimento. Isso certamente facilitará a identificação de eventuais dificuldades na esfera sexual, como também quais são as intervenções terapêuticas mais indicadas.


Referências:

https://www.scielosp.org/article/sausoc/2010.v19n2/273-285/pt/

https://www.menopause.org/for-women/sexual-health-menopause-online/sexual-problems-at-midlife/decreased-desire

 Leventhal, Jeanne L.. “Management of Libido Problems in Menopause.” The Permanente Journal vol. 4,3 (2000): 29–34: https://www.medicalnewstoday.com/articles/320266#menopause-and-libido-

 DE LORENZI, Dino Roberto Soares; SACILOTO, Bruno. Freqüência da atividade sexual em mulheres menopausadas. Rev. Assoc. Med. Bras.,  São Paulo ,  v. 52, n. 4, p. 256-260,  Aug.  2006